quinta-feira, 28 de junho de 2007

Kill Gerson



Quantos já não disseram a seguinte frase: "minha vida daria um roteiro de de um longa"? Eu nunca falei. Antes. Depois de pensar melhor, digo que daria um razoável. Bem, boa parte do filme seria ocupado pela figura materna, como alguns já sabem. Entretanto, isso é coisa pra Almodóvar, e eu não sou peroba.


Uma parte interessante desse filme certamente teria um título tarantiniano: "A noiva".


Como muitos também sabem, sou um entusiasta dos relacionamentos longos. Namoro pra mim era sempre o último. Por conta disso, fiquei noivo quase cinco anos da minha namorada. Casei com outra.


A noiva sempre me fazia sentir mal. Gastava o que eu não tinha. Comprava o que eu não usava. Sempre falava o que não devia.


Sou um profissional das letras e, na época, estava na graduação. Imagine para um quase professor ouvir palavras saírem da boca de sua "amada" que estavam totalmente fora de contexto. Era uma aberração. Até que ela tornou tudo mais fácil: "Ou a faculdade, ou eu." A conjunção ou pode ter valor inclusivo ou exclusivo. Eu nem quis saber. Free at last.


Assim pensava.


O diretor me reservou momentos de terror. Ataques-surpresa na faculdade. Cenas em público -"Você tem que falar comigo!". Telefonemas. Chantagens com a minha mãe - que, por sorte, estava em crise de depressão e não se lembra de nada até hoje.


A noiva queria me matar. Os irmãos sugeriam um processo. E eu, inocente, só soube anos depois. A ignorância é uma bênção.


A noiva ficou com o espólio: geladeira, máquina de lavar, televisão; eu, com dor na consciência, ainda perguntei:

"E aí, como é que você está? Está mais magra, hein!"


"Sim. Por sua causa."


Peguei a parte que me cabia no latifúndio e parti para o outro lado da ponte.


Sou inocente. Sempre fui. Mas sempre fiquei com essa história entalada. As noivas são muito cruéis. Eu sei que praga de mãe é foda, mas a de ex-noiva eu não estava a fim de descobrir.


quarta-feira, 27 de junho de 2007

Pros lingüistas de plantão


O ato mais solene do Direito é o casamento, caso alguém não saiba. Se, por um acaso, o noivo ou a noiva fazem uma gracinha na hora do "É de livre e espontânea vontade...", ou na hora do "Sim", o responsável encerra na hora a cerimônia. O negócio é sério. Casamento é coisa séria. Pelo menos pra justiça. O problema é o casal.

Nossa sociedade aprendeu a conviver com uma monogamia variável. Casa-se com alguém legalmente, mas existem as chamadas companheiras variantes.
Não tem aquele papo de lingüista de que, dependendo do contexto, pode-se falar com naturalidade "a gente vamos"ou "Chegou as compra"? Então, dependendo também do contexto, sua companheira variante também será aceita.

Obviamente que, em situações formais, sempre se deve usar a forma de prestígio, ou seja, a esposa. Não se usa forma variante na missa papal, por exemplo. É sempre Vossa Santidade e nunca "Meu camarada". Ou seja, leva-se em conta sempre a padrão.

É engraçado que as formas variantes comportam-se de maneira independente. Não têm a menor ligação com a forma padrão, de prestígio social. Aliás, ignora-se por completo a forma original. Parece que o fato de não se conhecerem faz com que uma ou outra não existam. Isso é bom, pois, quando as duas formas se esbarram, há um choque entre universos que ninguém gostaria de presenciar.

E como fica o usuário nessa história toda? Como se sabe, existem universais lingüísticos que determinam a gramática das línguas. Todas têm algum aspecto em comum. As regras fazem parte do processo. Por exemplo, se usou verbo transitivo, tem de trazer o complemento. No casamento é a mesma coisa: assinou o contrato, cumpram-se as normas estabelecidas; obedeça-se à lei.

Só que a variação é inerente a qualquer língua. Por mais que se mantenha a forma padrão, as formas variantes estão sempre a disposição. O problema todo está no contexto...

terça-feira, 26 de junho de 2007

Dicen que la distancia es el olvido


Gostaria de saber a partir de quando se institucionalizou esse negócio de namoro a distância. Essa é a pior desculpa que existe pro casal "começar-a-conhecer-novas-pessoas-com- consentimento-já-que-você-não-está-aqui".


Aquele papo de que o amor sobrevive a tudo é conversa. Pra começar, se há amor, um dos dois se vira pra ficar perto do outro. A distância duraria, no máximo, uma semana. Só.


Fico impressionado com esses casais que insistem nesse modelo de relacionamento, pois não há um pingo de sinceridade.


- Tem muita mulher aí onde você tá?

- Que nada. Mesmo que tivesse, pra mim só tem uma.


Ele não mente. Só que, na cabeça da namorada, essa uma é ela. Ele fala de "uma de cada vez".


- Vê lá o que você vai fazer nesses três meses, hein!


- Que esso! Quem sou eu?


Tradução: já estou fazendo. Aliás, neste momento, estou "fazendo" duas nativas...


E aqueles namoros que começam na rede? Não se fala mais em perigos de ela ou ele serem pessoas toscas, impróprias. Entretanto, um mínimo de cuidade só pode ter. Primeiro: sempre se mente sobre a distância de sua casa até algum centro civilizado. Afinal, se você mora tão bem assim, pode se arrumar por perto.


- Você mora onde?

- Rio Bonito.


- Não conheço. Onde fica?
- Sabe Niterói? Pois é.

- Pô, tu se parece com alguém conhecido?

- Saca a Lindsay Lohan?

O cara se anima. E aí? Faz o quê da vida?

Respostas erradas:

- Trabalho pra uma empresa de transportes...

Tradução: Sou cobradora da Rio Ita. Sente a pressão!
Outra:

- Trabalho na Viena Delicatessen...


Alguém aí já comeu no Viena? Já viram mulher bonita lá? Bem, já que é a distância...

A distância, até a Ísis de Oliveira namorou o George Clooney! E até cama nova o cara teria encomendado! Num universo paralelo talvez isso dê certo. Bem, pelo menos dá certo com meu filho e a namorada dele: só ele sabe.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

I don´t wanna wait...



Se sua vida desse origem a uma série de tv, seria um drama ou uma sitcom?

A minha teria trechos dos dos dois. Misturaria "Dawson´s Creek" com "Seinfeld". A frustração estaria na primeira parte; a vingança, na segunda.
Com esses meus amigos vivi mais momentos seinfeldianos do que dawsonianos. Todos sobrevivemos. Somos todos assunto de todos. Amigo que é amigo fala mal de amigo. Do melhor amigo.
Amigo que é amigo vira post de blog. Não te telefona. Não manda mensagem. Ainda assim, você telefona pra ele.
E o amigo te atende como se nada tivesse acontecido. E nada realmente aconteceu. Essa é a parte Dawson. Aí você ri com a desgraça do outro amigo em comum. Aí é Seinfeld.
É bom ter amigos. Mas não quero mais nenhum. É muita responsabilidade. É mais gente pra magoar. Aí não. Não quero magoar mais ninguém. Já basta a minha mãe.
Eu quero uma vida "Friends", mas não quero ser o único Chandler.

domingo, 24 de junho de 2007

Me duele tanto!

Quem disse que não gosto de nada?

No puedo arreglar amor!

Salve Machado!


Até onde um ser humano pode ir para alcançar seus objetivos? Não existe pergunta mais lugar-comum do que essa, mas a gente sempre se surpreeende com as atitudes das pessoas. A busca pelo auxílio sobrenatural é uma dessas coisas que ainda me chocam.


Quem ainda procura cartomantes? Certamente não é uma pessoa que tenha lido Machado de Assis. Depois do "Vá, ragazzo innamoratto...", sabemos o que aconteceu com o Camilo. E com a Rita. Pra que procurar cartomantes? É certo, alguém sempre vai se ferrar. Pra que fugir?


Aquela história de "Existe uma pessoa na sua vida...", "Você não é totalmente feliz...", "Você precisa se valorizar...", "Vai acontecer algo de importante..." Três letrinhas pra comentar: c-a-o. Esqueci o acento: caô. Dos brabos.


Algumas amigas já foram a cartomantes. Não conseguiram evitar o canto da sereia. Isso porque achavam que, se não se arrumassem agora, seria o canto do cisne. É o desespero. Não é falta de sexo propriamente. É só o desejo de não ter mais como se espalhar tanto na cama.


As cartomantes enxergam isso. Para elas só o desespero constrói. Só a dor alheia paga o condomínio da quitinete. Precisa ser vidente quando uma mulher bonita, bem vestida, com cara de bem resolvida vem te procurar? É claro que só pode estar querendo o homem de alguém, ou tentando descobrir quem é a vagabunda que está atrás do homem dela. Ou seja, é o serviço mais fácil do mundo.


"Você vai conseguir uma promoção..."


"Alguém vai te ligar hoje..."


Quando você achava que algumas pessoas já tinham atingido o fundo do poço, não é que elas ainda têm unha pra cavar?

Inexorável destino?


Qual o problema em se ter uma única mulher por um período superior a 10 anos? Pra mim, nenhum. Só tenho uma há 12. Entretanto, para alguns, isso é uma impossibilidade, e, no meu caso, para esses mesmos alguns, uma improbabilidade, dado um passado obscuro na graduação.


Como um professor poderia passar incólume por uma vida de tentações? Logo o professor, que só teria essa diversão na vida! É uma pergunta meio complicada com respostas inacreditáveis. No entanto, não cabe uma discussão muito longa a respeito. Não estou pra paredão.


Esse tópico surgiu em um encontro de professores amigos que têm uma prática interacional com alunos que vai além das quatros paredes da sala de aula. Complicado. Aluno, como afirmam alguns, não tem alma. É condição inerente deles, sine qua. Dessa forma, que garantias teria o pobre do professor de não ser descoberto avançando em uma micareta fora de hora? É só ver o que aconteceu com a coitada aí do lado.


O professor não tem garantias nem de continuar professor até o fim do semestre! Que dirá conseguir daquela aluna o segredo sobre seu desempenho. O problema está tão disseminado, que acredito que algumas faculdades vão criar um item na avaliação institucional do tipo "Seu professor(a) utiliza material audiovisual em escapadas sexuais?" ou "Seu professor utiliza linguagem suja o suficiente para estimulavocê satisfatoriamente?" E por aí vai.


Onde se ganha o pão não se come a carne, diriam alguns; escreveu, não leu, o pau comeu, diriam outros. Quem está certo? Não posso afirmar. Só sei que, até hoje, foi mais seguro pra mim gostar de mais de uma banda como o "Heróis da Resistência" do que da "Luxúria"...

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Esqueçam o que disse


Acho que não existe nada pior pra uma pessoa do que ser esquecida. Aquelas separações cheias de caô sempre terminam com um "Eu nunca vou te esquecer..." ou "Promete que não vai me esquecer?" Não adianta prometer absolutamente nada. Esquecer não é um processo voluntário. Apenas se esquece o que se considera desimportante. É complicado quando te consideram desimportante, por isso ninguém quer ser esquecido.

Deixando de lado essa viadagem toda do parágrafo anterior, lembrei-me desse pessoal do orkut que manda mensagem, dizendo que está deletando o perfil. Pô, pra que se dar ao trabalho? Os caras querem, no mínimo, que alguém ligue ou mande um e-mail, perguntando o motivo. O engraçado é que esse pessoal normalmente não faz a menor diferença no meu convívio. O mais simples seria não falarem absolutamente nada. Quer sair do orkut? vai, meu filho, mas não enche minha caixa de mensagens.

E os alunos que se acham inesquecíveis? Pra mim sempre serão. Sempre que paro em um posto de gasolina ou loja de calça jeans tem um. Como esquecê-los? Como esquecer que tudo o que você transmitiu a eles não serviu de absolutamente nada? Talvez por isso eles não queiram seresquecidos. Querem provar que você é um fracasso, e os culpam por isso.


Talvez eu seja realmente um fracasso. Senti isso no momento que comecei este post. Tem post, aliás, que merece ser esquecido. Este é um deles.


É muito interessante. Justamente o povo mais desimportante é que não quer ser esquecido.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Filho de peixe...

O telefone toca. O garoto mais velho (seis anos) atende:

- Alô. - A avó ,bem educada como sempre, retruca:

- Gabriel, chama tua mãe aí, que eu não falo com criança ao telefone!

Recapitulando. O texto da avó seria uma resposta a um texto do filho dela- eu - direcionado a um agregado - um garotinho de 7 anos, chato que só ele.

Uma semana depois. Toca o telefone.

- Alô.

- Gabriel, o Jefferson (o agregado) ganhou curso de inglês gratuito por seis meses na escola e... - Agora quem retruca é o garoto:

- Ó, vó, eu não tenho idade pra fazer curso de inglês. Além disso, você falou que não fala com criança no telefone. Tchau. -Desligou.

Isso não se faz... Genética é flórida.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Mãe é mãe



Minha mãe é fã do Romário. Até aí tudo bem, pois eu também sou. Só que minha mãe se expõe ao ridículo. Ela já foi a São Januário pra dar um presente pro cara! Isso explicaria muito do meu suposto mau humor, mas não é só.





Jogo do milésimo. Eu nem aí. Toca o telefone, e uma mulher chorando:





- Você tá vendo, meu filho? - Ao que respondo:





- Mãe, vai procurar o que fazer!





É sempre assim. Depois, uma semana de silêncio entre as partes, o que é bom pra mim. Sei que muitos achariam isso um horror, mas esses seriam os hipócritas do outro texto. A relação mãe/filho, depois do casamento dele deve ser restrita a momentos de, no máximo, 90 minutos/fim de semana.





Eu não agüento. Sabe aquele filho do vizinho, que você sabe que é um primor de vagabundo? Pois é, agora ele está trabalhando na xerox e, pelo jeito que ela fala, deve estar ganhando mais que você que trabalha 12 horas por dia e anda de carro mais umas 3.




Todos parecem melhores que você. Logo você que paga o plano de saúde, que leva pro hospital, que paga a passagem de avião pra ela perder o vôo e, depois, você ter de pagar a passagem novamente. Logo você.





Sabe aquela sua ex-namorada vagabunda? Pois é, agora é mãe de família e, por um acaso, você sente pelo papo que ela é melhor que a mulher que você escolheu pra casar.




Hoje já não me estresso. Passei 26 anos aborrecido. Agora uso toda minha gentileza para me afastar quando necessário. E olha que isso é muito fácil pra mim, basta pensar em todos como alunos de Ensino Médio. Assim até minha mãe tem medo de mim certas horas. Horrorizados?


Sabe o que é uma mulher com depressão não tomar o remédio e vir te encher o saco? Eu sei. Sabe aquela obra que você sabe que não vai dar certo, mas ela insiste em executá-la - com o seu dinheiro ? Eu sei. Muito. Pois é.




Amo minha mãe, mas é ela lá, e eu cá.



sábado, 16 de junho de 2007

Amor à vida


Esta semana o Brasil se escandalizou com um comentário da Martha Suplicy sobre a questão do atraso em vôos. Não entendi a celeuma. Então quer dizer que não se pode mais falar em gozar? O patrulhamento exercido pelo "Politicamente Correto" tem acabado com as tiradas inteligentes, deixando espaço para pedidos de desculpa hipócritas e sem razão de ser. Como no citado caso da Cida Diogo.

Eu não quero ser politicamente correto. As pessoas não podem ser poupadas de ouvir sobre o seu lado ruim. Aliás, eu uso o meu lado ruim para cumprir essa tarefa.


Não se pode mais ser sincero e dizer que uma pessoa é feia, mais do que feia, inapropriada para o consumo; não se pode dizer que é alguém é chato e incoveniente, para não ferir seus sentimentos; chamar aquele aluno de animal; criticar a roupa da colega. Tudo fere, tudo machuca a alma. Tudo abala. Mas e os meus sentimentos? E a repulsa que sinto? Já que a gente não fala, pelo menos tem de escrever. É o que eu tento fazer.


Não é de hoje que me acusam de mal humorado, o que não sou, senão já tinha dado um tiro - ou mais de um - em vários conhecidos. Eu apenas tento ser minimamente hipócrita, o que todos são. Eu não quero ser mais de uma pessoa só pra agradar. Pra que tentar agradar se vão me achar desagradável de qualquer jeito?
Enfim, sou pela democratização do esculacho. Pela liberdade de ofensa. Pelo escárnio. Pela crítica destrutiva!
Um ótimo fim de semana a todos.



terça-feira, 12 de junho de 2007

Pros que estão em casa


Aí, até ele se arrumou!

Pau que dá em Chico


Em um outro tópico, falei sobre a inveja que sentia dos líderes religiosos, cujas idéias nunca eram refutadas, por mais reacionárias que parecessem. Isso não é nada. Inveja mesmo eu tenho é do Chico Buarque.


Como não ter inveja do cara? Se é em política, ele pode falar qualquer coisa, afinal é um Buarque de Hollanda, é petista, intelectual etc. Todo mundo quer saber a opinião dele, mesmo que ele não tenha nada com o assunto.


E em futebol? Pô, até de craque o cara já foi chamado. Pelo Tostão! Sabe o que é ser avaliado pelo Tostão? Todo mundo quer jogar uma pelada contra o Politheama - o time do Chico.


Aliás, já repararam como ele deixou de ser "Chico Buarque" pra ser apenas "Chico". É um tal de "o Chico isso, porque o Chico aquilo..." Eu não me atrevo em chamá-lo assim. Parece discurso de mulher ou viado, muito afetado pro meu gosto. Ninguém mais consegue isso. Imagina chamar o Zeca Baleiro de "Zeca"; a Ivete Sangalo, de "Ivete", a Ana (argh) Carolina, de Ana?


Agora, o que me faz admirar mais esse cara é a legitimidade pra comer quem que seja. Qualquer mulher. Poucos alcançam tal status. É coisa pra dupla Pitt/Clooney.´Era coisa de Mastroianni. O cara foi fotografado na praia com uma mulher casada. Em qualquer lugar do mundo haveria uma morte, um corte de membros ou uma canção sertaneja. Com o Chico não. Foi, no máximo, um "Aê, na moral, deixa minha mulher em paz, por favor!"


Quando se chega a esse ponto da vida, o cara deve até começar a apresentar algum poder sobrenatural. Aliás, só o fato de ter ido ao show no canecão, dá direito ao cara de pegar umas duas ou três meninas nas noites seguintes.
Todos os meus pedidos para 2007 foram equivocados. Pra 2008 eu só tenho um: eu quero ser o Chico.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Mitos


Não sei se conhecem alguma pessoa que tenha morrido da "congestão"; eu, pelo menos, não. Aliás, na literatura analfamédica, esse seria um dos piores males que assolavam o país e o mundo no século passado.


A congestão era um fenômeno raro que se dava, normalmente, com aquele primo de um conhecido de sua tia de Campos, com o cunhado da lavadeira de uma amiga da patroa de sua tia, e por aí vai. Essas pessoas tinham em comum o fato de encostar qualquer parte do corpo em superfícies molhadas. Ou seja, tomou banho, lavou louça: congestão. O sintoma mais comum era a boca torta; se tomasse banho de piscina era derrame na certa. Quer dizer, AVC.


Cresci ouvindo histórias de pessoas que morreram por causa da congestão. Em uma versão hard da coisa, alguns moradores de um pequeno município de Alagoas se recusavam a tomar banho às segundas, tudo por conta da maldita doença.


Outro folclore era a tal da disritimia. Eu era um que tinha a tal da doença. Na verdade, eu era só hiperativo, ou seja, mal educado. As pessoas não percebiam. Pobre acha logo que é doença. Ainda mais com a mãe hipocondríaca que eu tenho.


Podia ficar aqui descrevendo os diversos males nunca devidamente pesquisados pela comunidade médica, mas não é o caso. Mas não posso deixar de mencionar algo de que sempre tive medo e não era doença: praga. Principalmente a de mãe. Quantas vezes fui ameaçado...


Lembrei-me disso por causa do Clodovil. O cara se recupera de um derrame (AVC), que ninguém me tira da cabeça que foi praga da Cida Diogo. Praga de mulher feia é foda (com o perdão da expressão). É o tipo de coisa que está envolta em um mar de amargura e malamância. É puro ódio. Aquela listinha que a deputada passou deve ter ido direto pra um terreiro em Sobradinho ou no Guará. É claro que ela não desejou a morte do cara, apenas muitas hemorróidas e herpes labial. Como deve ser cria da casa, fizeram um upgrade no pedido e deram uma AVC (!!!) de presente.
Disseram que a única seqüela é ficar com aquele riso eterno estampado para a posteridade. Era melhor morrer de congestão na infância.




domingo, 10 de junho de 2007

On my own!



Grupo infantil deveria ser proibido por lei de se apresentar na tv. Criança cantando é uma das piores coisas de ouvir, é deprimente. Elas desafinam que é um horror e têm postura de adultos. Não tem mais criança na tv, só um monte de anão disfarçado. É só olhar pra Dakota Fanning pra chegar a tal conclusão.


Quando era moleque, assistia ao Balão Mágico, veja no que deu. A Simony é aquilo: não pode ver ex-condenado que já quer casar. O Mike, com o sobrenome que tinha (Biggs, as in "ladrão de trem") era um exemplo de como o país gosta de bandido estrangeiro. Acho que o único que deu certo, assim mesmo como compositor, foi o Jairzinho, AKA Jair Oliveira. Trauma de infância.


Não dava pra ouvir, não dá pra ouvir. Vejam só esse ser híbrido chamado Sandyjúnior. Parece que agora se dividiram em Virgem Maria e São Sebastião. A mídia me fez engolir esses dois por quase 20 anos!

Isso é na mídia, mas e quando a gente não tem como fugir? Aquela programação bacana da igreja no domingão, e você descobre que o grupo das crianças vai fazer uma peça, uma homenagem aos pais, sei lá. Seu filho vai cantar e você tem de levar câmera fotográfica e todo aparato tecnológico.


Seu filho canta. Você chora. Não de emoção, de terror, pois é muito chato. Você bate palmas. Lindo (acabou!).


E o grupo jovem? Animado... Os adolescentes misturados àquelas senhoras desafinadas que insistem em cantar em falsete! Como deixam? E os adolescentes não acham o tom, os músicos não acham a nota, eu não acho a porta de saída.


Adolescente cantando eu só aceitava o Michael Jackson. E a Nikka Costa ("Sometimes I wonder where I've been ..."), que mandava uma balada na moral nos 80. O resto é coral de adolescente em fim de tarde, quando a voz resolve engrossar e o tenor não consegue mais alcançar a nota. Quem paga sou eu.

sábado, 9 de junho de 2007

Com razão


Adoro padres. Aquele ar de quem está sempre com a razão, aquele tom imaculado nas discussões, a superioridade moral, tudo isso me faz amá-los mais do que a qualquer outro tipo de pessoa. É fantástica a capacidade de análise do comportamento do ser humano que essa categoria apresenta sem que necessariamente digam algo relevante. Por isso os admiro, os caras mantêm o respeito da comunidade, mantêm-na unida, mesmo que ela os odeie.


Não tem coisa melhor pro meu sábado que ler a coluna do D. Eugênio salles. Que mente brilhante. Quando tinha uns 9 anos, lembro-me de ter ido à Arquidiocese e levado flores pra ele. Figura simpática, adorável. Hoje ainda o é, acredito. Além disso, sem preconceitos. Quando leio os seus textos, fico iluminado. Como escrever durante tantos anos uma coluna semanal em jornal de grande circulação, sem apresentar um dado concreto para seus argumentos? Como escrever sobre o mesmo assunto tanto tempo e simplesmente não conseguir mudar a opinião de ninguém? E continuar escrevendo! Adoro essa perseverança. Entretanto acho que dados concretos ajudariam na defesa da tese de que controle de natalidade é método de seleção de seres humanos. Enfim.


Adoro pastores também. Não qualquer pastor. Gosto daquele que se oferece para ir a sua casa, isso quando não aparece do nada e fica olhando para as bebidas da estante - que estão lá de enfeite (pobre não bebe vinho de estante, senão tem de comprar enfeite caro). Adoro quando esses pastores tentam explicar a história da formação de determinadas palavras. Adoro o tom professoral. Simplesmente adoro, quase tanto quanto gosto de padres.


Enfim, adoro líderes espirituais de uma maneira geral. Principalmente os ocidentais. Isso porque estão com a razão quase sempre. Gosto que seja assim. Pessoas com razão devem orientar os sem.


Adorei quando falaram que "ficar" sem compromisso é o mesmo que prostituir-se. Fantástico. Mais espetacular ainda foi o fato de, no fim de semana seguinte, a missa das 8 estar lotada de adolescentes. Fora a missa do Papa. Quanta gente! (Adoro o Papa. Aliás alguém tem de avisar ao D. Eugênio que o João Paulo II morreu. O papa agora é outro.)


Os líderes espirituais são inspiração, pois não erram. Isso é bom. É bom viver num mundo onde ainda há exemplos a serem seguidos. Gosto da idéia de que existem pessoas contra cujos argumentos não se discute. Queria ser assim.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Late, que eu tô passando


Num colóquio sobre filosofia da educação com um colega de trabalho, surgiu uma discussão sobre o discurso funkeiro, do qual sou um entusiasta. Os caras são extremamente criativos, não tem aquela de "na primeira isso, na segunda aquilo etc." Pensem na profundidade das metáforas:


"A fiel diz: "ele é meu."

A amante diz: "ele é nosso."

Eu digo: "Não sou de ninguém!

Tô na pista pra negócio."


Na verdade, o que há é uma construção de sentido por meio de uma relação metonímica advinda de uma relação de causalidade proveniente da idéia de pista e no que existe em qualquer negócio. Certamente, foi nisso que pensou o autor funcionalista.


Aqui os intelectuais execram esse tipo de música, que tem suas variantes menos polidas, tais quais:


"Vem que vem que vem "quicano"

No colo dos havaiano"


Ou mesmo:


"Dako é bom

Dako é bom

Calma, minha gente

É só marca de fogão!"


Tudo sucesso entre a plebe. Não serve pra comunidade letrada. É tudo tão fast food como é a tal da Ana-olha-só-como-é-legal-ser-bissexual-Carolina. Mas, enquanto esta é Mac Donalds, aquela é o cachorro quente da praça. O bom é que na praça você pode se lambuzar com a maionese e deixar a bata frita e a ervilha caírem no chão (ou cair: deixar é causativo blá blá blá). Por conta disso é que se curte muito mais o Funk.

Como é chata essa Ana Carolina. Como é chata a Ivete Sangalo. Gaiola das "popozudas"( não aceito esse "z") já!


Enfim, nem gosto da Tati quebra-barraco, mas admiro sua posição de privilegiar uma marca como a Dako, que não é bem vista no mercado. Deixa as meninas compraram o fogão que quiserem, ninguém tem nada com a cozinha delas.


Admiro também as meninas da Gaiola, pois em seus singelos versos "É minha é minha. A p*da b*é minha!" mostram-se pessoas de opinião.


Intelectual gosta de 50 cent, Ja-Rule, Jay Z e Akon. Bem O Akon canta assim, em "Smack that":

"Transando, no chão

Transando, dê-me um pouco mais

Transando, até você se machucar

Transando, oooooh"

E aí, tá na pista?

O que as mulheres ouvem


Tive uma aluna que, até os 17, manteve intacto seu buço. Como uma mãe, um pai, uma família preocupada com a formação de uma jovem permite esse tipo de coisa? Acho que não é complicado chegar pra menina e mandar: "Pô, na moral, tu tá com maior bigodão, tira esse bagulho!"


O problema é que certas coisas tocam fundo. A menina pode se dar conta do motivo pra não arrumar namorado e ficar deprimida até os 22, qunado repararem que ela não tem mais buço, mas também não tem bunda. Aí, como dito alhures, só internet.


Existem coisas que, realmente, não se podem dizer a uma mulher. Tipo, aluno "braço", camarada, em dia inspirado perturba a aula da professora que já não exercita a linguagem não-verbal do sexo há um tempo. Palavrão daqui, "Eu num fiz nada" dali, quando finalmente sai a pérola: "Ah, professora, num fode!!"


Isso não se diz. Imagina a situação da coitada. Dependendo do caso o cara corre o sério risco de uma resposta "Fodo, sim!" Nesse caso, ele ia ter de se virar. A colega, entretanto, ficou deprimida e chamou a mãe do cidadão pra uma conversa.


Eu sei que tem muita professora que ia pedir o telefone do cara.


segunda-feira, 4 de junho de 2007

Que me desculpem os enfermeiros


Fui a um médico do trabalho hoje. Cara gente boa, chegou na hora e fez poucas perguntas. Favorzão. Não quero ser amigo de médico. Ainda mais médico que parece formado em Curso Médio ou Politécnico. Se a gente dá mole, o cara puxa assunto e a consulta leva mais do que os 3 minutos habituais. Não é pra mim.

Médico é o tipo de pessoa que menos se preocupa com o outro. Está 2 horas atrasado? Problema seu, espera. Mediu sua pressão telepaticamente? Problema seu, AVC tá na moda mesmo. (Aliás, qual o problema com o derrame? Mudam tudo. Parece até episódio do "Além da Imaginação". O cara acorda do nada e mudaram o nome das coisas.)

Pra que tanto tempo fazendo medicina se tudo se resume a viroses e "andaços"? Pra alguns cursos, eu sugeriria o poltécnico. Por exemplo: dermatologia. Quando o problema é sério, o cara te recomenda pra um especialista bom "lá do Rio"! Outro: otorrino. Putz, coisa menor! Graduação tecnológica neles!

Eu sei que vão falar que é inveja de pardo, professor-de-português-que-não-passaria-pra-Unig, o que não deixa de ser verdade, mas hoje em dia qualquer ex-delinqüente aspira a ser mérdico.

Podia ser pior, sabe? Imagina: fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta...

domingo, 3 de junho de 2007

Volver a empezar


Hoje a vizinha estava empolgada. Ouvia no rádio Julio Iglesias. Naquele momento, vieram-me a mente aqueles momentos da juventude nos 80`s. Julio Iglesias, Viva a Noite, Menudo, Tremendo, Naim, Qual é a música?, eu-saindo-com-minha-mãe-no-domingo-pra-mais-um-programa-de-índio etc.


Tudo se reforçou com outro fato. A temperatura hoje em RB deve estar em uns 5 graus. Chove. E não é que minha mãe foi pra uma festa no Recreio? Dos Bandeirantes! É mais longe que Guarapari.


Eu tenho umas seiscentas provas que me olham pedindo pra serem corrigidas, porém só penso no jogo do Flamengo- que, se tudo der certo, não vai ser narrado pelo Cléber Machado - e no último capítulo de Roma.


E a música não me sai da cabeça:


"Yo que siempre jugué con tu amor hasta el final Y seguro yo estaba que tú aun me querías Hoy al ver que ya todo acabó que no daría Para volver a empezar ..."

sábado, 2 de junho de 2007

Vamos dar as mãos...

Lugar de solteiro desesperado é em grupos temáticos. Se o cara perdeu as esperanças de arrumar um pessoalzinho maneiro "na pista", tem que freqüentar um desses. O mais comum é o cara freqüentar a reunião do pessoal da "Canção Nova". O que tem de carismático/a se dando bem é uma festa. Violão, meninada descolada, som dançante, palmas, coreografia. Pô, alguma coisa o cara tem de fazer certo! Uma basta pra ele se arrumar.
Com os evangélicos são os Congressos. Dá uma reparada e vê quanto marmanjo de 35, 40, anda por congressos de associações. É ouro puro. (No caso dos batistas, "diamante", "rubis"etc.) No fim, rola sempre aquela social, o momento mais esperado do dia. Assim, de congresso em congresso, quem sabe?
Agora, quando o cara está mal mesmo, o jeito é o AA. Ele sabe que rola aquela história de passos, mas não quer nem saber. É o último estágio. Aquele papo de "ainda não estou pronta para compromisso" já esperado. Mas até ele sabe que o pessoal tá vulnerável, e ele tem a faca e o queijo na mão. (O ideal é preparar um testemunho bacana pra impressionar e ter uma ficha de 5 anos sóbrio.)
Se até assim não rolar, tem sempre a internet. Internet é o fundo do poço.

Minha vida de cachorro


Salpicão, carne assada, maionese, torta salgada. O que isso sugere? Festa de pobre. A galera enchendo os cornos de Dolly (melhor que guaraná Antártica) e Itaipava - "Muito boa, né? Tudo naquele isopor com a tampa preta de poeira. Festa de pobre.

Futebol, doença, filhos - dos outros. Tudo tema de festa de pobre. Chega o tio que estava trabalhando:

"Pô, a cerveja tá quente!"

Todo mundo falando mal do vizinho maconheiro, inclusive o sobrinho gay e a filha piranha. Festa de pobre. E tome a falar mal do prefeito. Festa de pobre. São Gonçalo. Festa de pobre."Mataram três no Clumbandê ontem."Festa de pobre.

Festa de pobre é assim, a maior alegria, tudo autêntico. Apresenta-se o namorado da mais nova, que já recebe uma Itaipava do sogro trôpego:

" Come um pedaço de torta salgada."

Acordaram o molequinho, que já chega aos berros. Disputa pra ver quem pega no colo primeiro. Adoro festa de pobre.

"Come aê, hoje é de graça!."

Abundância.

Fim do dia. Quem vai embora promete voltar pro "enterro dos ossos". Alguém já ouviu falar em enterro de ossos depois de um bufê? Pois é. Tecnologia de pobre. Novos tempos e os pobres na vanguarda da reciclagem. Agora acabou. Até o próximo almoço da família.