Quantos já não disseram a seguinte frase: "minha vida daria um roteiro de de um longa"? Eu nunca falei. Antes. Depois de pensar melhor, digo que daria um razoável. Bem, boa parte do filme seria ocupado pela figura materna, como alguns já sabem. Entretanto, isso é coisa pra Almodóvar, e eu não sou peroba.
Uma parte interessante desse filme certamente teria um título tarantiniano: "A noiva".
Como muitos também sabem, sou um entusiasta dos relacionamentos longos. Namoro pra mim era sempre o último. Por conta disso, fiquei noivo quase cinco anos da minha namorada. Casei com outra.
A noiva sempre me fazia sentir mal. Gastava o que eu não tinha. Comprava o que eu não usava. Sempre falava o que não devia.
Sou um profissional das letras e, na época, estava na graduação. Imagine para um quase professor ouvir palavras saírem da boca de sua "amada" que estavam totalmente fora de contexto. Era uma aberração. Até que ela tornou tudo mais fácil: "Ou a faculdade, ou eu." A conjunção ou pode ter valor inclusivo ou exclusivo. Eu nem quis saber. Free at last.
Assim pensava.
O diretor me reservou momentos de terror. Ataques-surpresa na faculdade. Cenas em público -"Você tem que falar comigo!". Telefonemas. Chantagens com a minha mãe - que, por sorte, estava em crise de depressão e não se lembra de nada até hoje.
A noiva queria me matar. Os irmãos sugeriam um processo. E eu, inocente, só soube anos depois. A ignorância é uma bênção.
A noiva ficou com o espólio: geladeira, máquina de lavar, televisão; eu, com dor na consciência, ainda perguntei:
"E aí, como é que você está? Está mais magra, hein!"
"Sim. Por sua causa."
Peguei a parte que me cabia no latifúndio e parti para o outro lado da ponte.
Sou inocente. Sempre fui. Mas sempre fiquei com essa história entalada. As noivas são muito cruéis. Eu sei que praga de mãe é foda, mas a de ex-noiva eu não estava a fim de descobrir.