domingo, 12 de agosto de 2007

Bons tempos? II




Sair com os pais só é bom programa até você completar dois anos de idade. Depois disso, é sempre algo de que os filhos desejam fugir.


Pra mim sempre foi o fim ir à casa das amigas da mminha mãe. Parecia que aquele pessoal só sabia cozinhar uma coisa: cozido. Até hoje detesto cozido. Aqueles legumes inteiros misturados com aquela vastidão de carne era de uma estupidez gastronômica teratológica.

Mas, como estávamos nos anos 80, aceitávamos tal condição. Nessa época, tudo era deprimente: condição social, vestuário, programação televisiva etc. Acho que a única coisa que se salvou foi o chamado BRock.

Pra fugir da depressão pós-cozido, sempre tinha um Legião pra ouvir. O Legião Urbana - cujo nome é criticado até hoje por evangélicos mais linha-dura, por conta da referência demoníaca - agitava tudo. Todo mundo dançava como louco ao som de Será?, Geração coca-cola e, a minha preferida, Teorema.

Nessa época, o BRock também trouxe o Paralamas, o Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Lobão e os Ronaldos, Plebe Rude, Finis Africae, Hojerizah, Picassos Falsos, além, é claro, da superbanda que era o Barão, que ainda tinha o Cazuza.

Os anos 80 foram ruins em quase tudo, mas trouxeram o Renato Russo e o Cazuza. Acho que os caras trariam emoção até se escrevessem sobre sabão em pó. ( Muito provavelmente falariam que, em um momento de depressão, misturariam o pó do sabão à cocaína, só pra imaginar coisas coloridas e cheirosas.)
Eu me sentia um membro da "Geração Coca-Cola". Afinal, éramos "filhos da revolução", o "futuro da nação". E eu estava certo em acreditar no Renato Russo. Por isso que o país está essa merda hoje.

Com o Cazuza, a gente aprendeu que ficar deprimido era legal. A letra de "Down em mim" era realmente pra se matar:
"Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nessas noites quentes de verão
E não me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down (...)
Outra vez vou me esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer..."

Os dois realmente eram foda. Tinham mesmo que morrer, pois o Brasil não agüentaria assistir aos dois caírem na mediocridade, o que certamente aconteceria.

Só os dois mesmo pra fazer descer a batata doce do cozido, sem vomitar depois.

3 comentários:

Ana disse...

Puxa, eu sempre adorei os anos oitenta. Provavelmente minha infância foi melhor que a sua adolescência.

E eu adoro cozido. Mas tem que cozinhar cada legume e cada carne em panelas separadas. Senão vira lavagem.

Gileade disse...

Eu também gosto do Cazuza e Legião. E nunca ouvi nenhum comentário depreciativo em relação ao nome da banda... Talvez o povo não conhecesse...

Andrea disse...

Eu acho o Renato um engodo. Mas eu aaaaamo Cazuza.